Como ler partitura?
Publicado originalmente na Academia de Composição
Muita coisa que eu posto no blog da Academia de Composição (e alguns dos vídeos que vêm pela frente) exigem que você entenda como ler partitura. Então, nada mais lógico do que explicar como a partitura funciona, pra você poder aproveitar esse conteúdo melhor.
Vamos ter uma visão geral aqui, que já vai ser o suficiente para você encontrar as notas na partitura. Este post e o e-book gratuito Essencial de Teoria Musical para Compositores se complementam muito bem!
Pentagrama
Pentagrama é o conjunto de cinco linhas onde escrevemos as notas (penta = cinco).
As notas são escritas sobre as linhas ou no espaço entre elas.
Claves
As claves nos dão a referência de qual nota está em qual linha ou espaço. Por exemplo:
A clave de Sol indica que a nota sobre a segunda linha é Sol. A partir daí, vamos contando na sequência da escala:
O espaço acima de Sol é Lá, a linha seguinte é Si, o espaço seguinte é Dó… e assim por diante. Subindo, as notas vão ficando mais agudas. Mesma lógica para baixo, com as notas ficando mais graves. É assim que você lê as notas em qualquer clave.
A clave de Sol normalmente é usada para instrumentos agudos, como o violino, a flauta e a mão direita do piano.
A clave de Fá, tão comum quanto a de Sol, indica que a nota Fá está na quarta linha (logo ali entre as duas bolinhas pequenas no desenho da clave).
Esta clave normalmente é usada para instrumentos graves, como o violoncelo, o contrabaixo e a mão esquerda do piano.
A clave de Dó é um pouco menos comum. Indica que a nota da terceira linha é Dó (bem no meio do desenho da clave).
Costuma ser usada para instrumentos de tessitura média, como a viola.
Dó central
Ué, mas por que uma clave é usada pra instrumentos agudos, outra para médios e outra para graves?
Dá uma olhada nesta imagem:
Nesta imagem você está lendo exatamente a mesma nota Dó em todas as claves: o Dó Central (ou C4 – Dó na quarta oitava). Ele fica bem no meio do piano.
Percebe como ele fica bem mais embaixo na clave de Sol, permitindo que você vá muito mais agudo usando o pentagrama normal? (essa linhazinha em que o Dó está escrito na clave de Sol é chamada de linha suplementar, e aparece quando a gente precisa escrever uma nota que não cabe nas 5 linhas regulares)
Já na clave de Fá, ele fica lá em cima, permitindo que você vá muito mais grave. E na de Dó, fica bem no meio, oferecendo a mesma distância para agudos e graves.
Acidentes
Como você pode ver no e-book mencionado lá no começo, as notas básicas que a gente tem no sistema temperado (o sistema de notas usado no Ocidente) são Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si. Essas são as teclas brancas no piano e as notas que a gente escreve na partitura sem ter que acrescentar nada.
As teclas pretas do piano equivalem aos acidentes: sustenidos (#) e bemóis (b). Sustenidos elevam uma nota em meio tom, e bemóis diminuem uma nota em meio tom (veja o e-book para mais detalhes).
Esse último aí é o bequadro. Ele serve para cancelar um acidente que esteja no mesmo compasso – então, nesse caso, a gente tem um Ré sustenido e, logo em seguida, um Ré natural (ou seja, um Ré que não sofreu nenhuma modificação, ou o Ré da tecla branca).
Compasso
Um compasso é, nas palavras da professora Marisa Ramires, “o agrupamento dos tempos de uma composição ou fragmento musical”. O compasso determina pulsos fortes e fracos, e geralmente contém uma certa ideia ou motivo musical. A gente separa um compasso do outro pela barra de compasso.
Aproveitando, aí vai um exercício: copie esse trecho numa folha de papel e nomeie cada uma das notas. Pode demorar, não tem problema. Depois confira a resposta aqui.
A mudança entre notas pretas e brancas neste exemplo diz respeito ao ritmo (isso também é explicado no e-book). Compassos são explicados mais a fundo no curso Teoria Musical para Compositores.
Claves diferentes
Às vezes você pode encontrar algumas modificações nas claves que eu te apresentei.
Se a clave tiver um 8 embaixo, quer dizer que todas as notas devem ser lidas uma oitava abaixo (ou: mais graves). Se o 8 estiver em cima, leia oitava acima (ou: notas mais agudas).
A clave também pode estar deslocada da sua posição mais comum. Nos exemplos acima, a clave de Fá está na 5ª linha – ou seja, a nota Fá é lida na 5ª linha ao invés da 4ª, e as outras notas seguem essa mudança; e a clave de Dó está na 4ª linha (mesma lógica).
Como treinar minha leitura?
Como eu já disse pouco tempo atrás, aprender a ler partitura é como aprender outra língua: você tem que treinar pra ficar fluente.
Alguns exercícios que eu sugiro para você praticar:
- Pegue qualquer partitura e copie, anotando o nome de cada nota ao lado dela. Uma fonte incrível de partituras de música erudita em domínio público é o IMSLP, mas você pode procurar partituras de todo tipo de música (impressas ou na internet) ou comprar um livro de exercícios, como o Bona e o Pozzoli (que é excelente para treinar leitura rítmica);
- Da mesma forma, leia em voz alta o nome de cada nota. Não precisa cantar, apenas diga o nome das notas;
- Quando estiver se sentindo mais segur@ com os nomes das notas, comece a tocar as melodias das partituras no seu instrumento. Se você canta, tocar as notas num piano ou teclado ajuda a saber a altura de cada nota, te ajudando a afinar;
- Não deixe a parte rítmica de lado!
- Não tem problema ler devagar! Quando você começou a ler português, certamente não conseguia juntar as letras em palavras logo de cara…
- Para leitura harmônica (ou seja, de acordes ou grupos de notas simultâneas), ajuda muito guardar na cabeça o “desenho” dos intervalos (também falo de intervalos no e-book). Por exemplo, terças sempre estão coladas uma na outra – se a tônica está sobre a linha, a terça também estará;
- Mais pra frente, pegue partituras das suas músicas favoritas e tente acompanhar as gravações com elas. No começo vai parecer impossível, mas aos poucos você vai começar a entender as relações entre o que você está lendo e o que está ouvindo. Dica: se concentre em uma coisa de cada vez, priorizando a princípio algum ritmo forte ou uma melodia principal.
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Thiago Schiefer é um compositor de São Paulo. Focado principalmente em música e efeitos sonoros para games nos últimos anos, ele criou todos os sons para os jogos Drop Dead Twice e Staroids: The Odyssey. Atualmente está trabalhando em Eliosi’s Hunt e na próxima atualização de Drop Dead Twice.
Ele também lançou, como artista solo, os álbuns Prototype: Freedom (2013) e Living Room Sessions (2015). Hoje, além das trilhas e canções autorais, comanda o canal Academia de Composição, com dicas e tutoriais em vídeo e texto para compositores de todos os níveis.